Seja “Birdman” vencedor do Oscar ou não, sua função já está embutida no recado principal: vamos enxergar a realidade, em meio às ilusões. A obra de Alejandro Iñárritu é recheada de mensagens subliminares que realçam características da indústria cinematográfica ocultas, infiltradas, sombrias. Todos os personagens reúnem ingredientes propositais, emblemáticos de todo o jogo nefasto de poder e manipulação sobre atores, diretores e equipes de produção.
Cartaz promocional do filme: manipulação mental e forças ocultas
Vamos por partes. O filme é uma obra singular, honesta. Sua qualidade não é agradar, mas provocar. Ao diretor-autor, coube afirmar que todo esse processo envolve sua própria história, entre inseguranças, sucessos e pesadelos envoltos em universos ásperos e liquefeitos, onde o que prospera deve estar associado ao grupo que trabalha no invisível, nas entranhas do ocultismo. Hollywood, desde sempre, é um arquétipo do satanismo conspiratório. Assim como na música pop, gerenciada pelo rap e endossada por poderosos arquitetos das trevas. Iñárritu teve coragem para ir além e cutucar esta “indústria”. Fez um filme sobre o bem e o mal.
Sequência emblemática, onde Lúcifer (Birdman) exerce controle mental sobre Thomson, até o limite da esquizofrenia em seu grau crônico e cruel
Vamos compreender, primeiro, o que é satanismo na esfera cinematográfica. Organizações secretas americanas atuam no modus operandi. Bilhões de dólares estão nas mãos de grupos que atuam no invisível e dão as cartas a quem executa e encontra-se na superfície. Sua base é a propagação das ideias de Lúcifer, denominação romana dada a Satã e que significa “portador de luz”. Na mitologia, é o príncipe das trevas, o querubim que desvirtuou-se de Deus e caiu do céu para a Terra. Ao seduzir-se pela humanidade, impetrou o anticristo como regra e condição para afrontar a Deus, sobre todos os aspectos. É o ‘anjo caído’, o anjo negro, o caminho contrário à evolução espiritual e salvação. Antes, Lúcifer era o arquétipo de liderança e organização, de total confiança de Deus e Jesus Cristo:
“Cheio de sabedoria e formosura, de todas as pedras preciosas te cobrias. Tu eras o querubim, ungido para cobrir e te estabeleci. No Monte Santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti.” (Ezequiel, 28:12-15)
Lúcifer passou a olhar para si mesmo e adorar-se narcisicamente. Em Isaías 14:12-14, um sinal: “Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações e dizias, em teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono. Subirei sobre as alturas das nuvens e serei semelhante ao Altíssimo”.
Sua missão tornou-se símbolo da deserção, assumindo a condição de referencial das trevas. Entre os humanos começou a alastrar-se, corrompendo mentes e corações, direcionados a impetrar a leitura satanista, com “liberdade, audácia e sedução”. Nos EUA, difundiu-se pelas ideias de Aleister Crowley (1875 – 1947), fundador da Lei de Thelema (o Livro da Lei, que prega a liberdade sem regras ou leis) e Anton LaVey (1930 – 1997), fundador da Igreja de Satã, dois dos maiores gurus luciferianos do mundo. Magia, ilusionismo e sedução tornaram-se aspectos principais dos seguidores, tudo o que vai na linha contrária dos preceitos de Deus. O que ilude é, por si só, obra satânica. A mentira em permanente guerra contra a Verdade.
Cinema é magia e sedução. A indústria do entretenimento nutre-se desta regra. Entreter é distrair, desviar, desorientar. Sobretudo, manipular. Hollywood controla a sociedade pelos produtos que gerencia. É pactuada com organizações secretas satanistas, ao ponto de criar um carrossel de fantoches e instrumentos dotados de falso poder. Faz isso, historicamente, com atores e atrizes, já pactuados, tendo como parâmetro o controle da mente, do pensamento, comportamento e sentimentos. É somente um primeiro ponto, dentre tantos.
Em “Birdman”, a simbologia ocultista deflagrada por Iñárritu é um conjunto de grãos a serem digeridos, um a um. Riggan Thomson é um ator perturbado, inquieto, inseguro e distante de si mesmo. E não é o único. Sua personalidade é refém da “voz”, que inicialmente revela traços de alucinação auditiva. A sombra de seu personagem “homem-pássaro” é a questão que exacerba e seduz, sarcasticamente. Perceba a indumentária do ‘herói’ vivido por Thomson em três edições. Há penas negras e máscara, que esconde sua identidade real. A figura tem diversas semelhanças com o mito de Lúcifer, o anjo das trevas. O que faz com o ator é a realidade da indústria: cerca-se por detrás, solta manipulações mentais, seduz, perturba, dirige e convence. Thomson rende-se e faz exatamente o que o ‘personagem’ determina. “Birdman” é o próprio Lúcifer iludindo. Dá a Thomson falsos poderes e onipotências, sobretudo por ser um indivíduo carente, inseguro, sem autoconfiança, o mais provável de submeter-se. O sucesso tem seu preço, pago em prestações por quem é seu ‘fiador’.
Riggan Thomson e o dilema afetivo-existencial entre três personagens: conflitos de identidade e vulnerabilidades entre o homem e a criação
Thomson está no camarim, em conversa com a ex-mulher Sylvia e diz: “Você sabia que a Farrah Fawcett morreu no mesmo dia que o Michael Jackson?” (ambos faleceram em 25 de junho de 2009 e cogita-se que vitimados por conspirações secretas). Em seguida, a cena fixa-se em somente um olho de Sylvia, que não responde. Mensagem subliminar do “olho que tudo vê”, ou o “olho de Lúcifer”? Bem provável. Os suicídios de Whitney Houston, Philip Seymour-Hoffman e Robin Williams são como o ato final de Thomson, que buscou a libertação indo aos céus, como aves desprendidas de gaiolas luciferianas. A simbologia do único olho reaparece durante a perturbadora caminhada de Thomson de cueca pelas ruas da Broadway, em meio a vários backlights, como em uma espionagem oculta:
Em dado momento, a “voz” penetra na mente: “Você está péssimo, irmão. Fica com aquela cara de mongoloide quando está de ressaca. Vamos, levante! Está um dia lindo. Esqueça o Times (New York Times). Todo mundo já esqueceu. E daí, você não é um grande ator, quem se importa? Você é muito mais do que isso. Você está acima desses cretinos do teatro, você é uma estrela de cinema, cara! Você é uma força global, não entende? Passou toda a sua vida construindo a conta bancária e uma reputação e estragou as duas. Dane-se! Nós vamos voltar. Estou esperando por uma coisa grande. Dê a eles! Tire esse cavanhaques patético, faça uma plástica, 60 é o novo 30, desgraçado! Você é original, cara. Você abriu caminho pra esses outros palhaços, dê às pessoas o que elas querem: um enlatado apocalíptico dos bons, ‘Birdman, a Fênix se Ergue’. Gamers com caras cheias de espinhas vão adorar! Um bilhão de renda pelo mundo garantido! Você é maior do que a vida, cara! Você salva as pessoas de suas vidas infelizes e chatas. Você é só saltarem, rirem, borrarem suas calças. Isso é tudo o que tem a fazer. É disso que estou falando, ossos tremendo, grande, alto. Olhe para esse povo, olhe nos olhos, estão todos animados, eles adoram essa merda, adoram sangue! Adoram ação! Não essa merda de falatório deprimente e filosófico. É, e da próxima vez que você grasnar, vai explodir em milhões de tímpanos. Você vai brilhar em milhares de telas de todo o mundo. Outro grande sucesso. Você é um deus. Viu? É isso aí, seu desgraçado. Gravidade nem se aplica a você. Espere até ver os rostos daqueles que acham que estávamos acabados. Vamos voltar mais uma vez e mostrar do que somos capazes. Temos que terminar isso em nossos próprios termos, com um grande gesto: chamas, sacrifício, Ícaro! Você consegue!”.
Perturbado, alucina sobre si próprio. Voa, flutua e levita sobre ruas e arranha-céus de Nova York, como um pássaro no grito pela liberdade. A voz prossegue: “Você viu? Esse é o seu lugar. Acima de todos eles!". A cena termina com Thomson entrando no St. James Theatre após sair do táxi, sem pagar, agora em realidade.
Delírio de Thomson, em cena que sugere suicídio ou libertação de neuroses
Melodramática, a trama é a própria emancipação de conflitos existenciais e afetivos múltiplos que acionam o homem em questões que envolvam sua história. Filmes como "O Código Da Vinci" (2006), "Anjos e Demônios" (2009), "Cisne Negro" (2010), "007 - Skyfall" (2012) e "Birdman" (2014) revelam a conspiração Illuminati, que congrega os preceitos luciferianos no cinema norte-americano e rascunham em que tapete esconde-se a poeira das trevas.
Dois momentos marcantes de Sam Thomson (Emma Stone): na laje do teatro, tendo ao fundo a figura subliminar do cartaz de "O Fantasma da Ópera" (fantasmas que assombram a mente) e na cena final, ao identificar-se com a libertação do pai, que entrega-se à morte operante
Thomson recupera-se no hospital, com curativo que assemelha-se à máscara de "Phantom Of The Opera" e no plano do único olho
Alejandro Iñárritu dirige Keaton, em cena da levitação sobre Nova York
Vamos amadurecer a percepção com "Birdman". Mesmo que, a virtude da ignorância ainda escravize mentes e corações nos porões da regressão humana.
Afinal, de quem estamos falando, quando falamos de nós mesmos?