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terça-feira, 26 de agosto de 2014

A Idade Média Mal Compreendida: Os 7 maiores mitos sobre a idade medieval desmistificados. Confira!

A "Monstruosa e dominadora Igreja Católica"... Bem, eu não sou católico, mas posso afirmar com embasamento histórico e documental que a Idade medieval cristã, onde a Igreja era o centro de todas as aspirações politicas, sociais, religiosas etc, é tão mal compreendida nos dias atuais, que o que vemos são somente as pessoas exprimindo o senso comum sobre o assunto. 

Noções preconceituosas sobre a Idade Média já foram amplamente propagadas, inclusive por motivações políticas, e ainda hoje permanecem mitos no imaginário popular. 

Isso também é verdadeiro quando se trata das noções da ciência no período: ele é muitas vezes referido pejorativamente como idade das trevas, sugerindo que nele não teria havido nenhuma criação filosófica ou científica autônoma.

Depois de superado o abalo de desastres como a Peste Negra, na parte final da Idade Média, o Ocidente pôde demonstrar um crescimento científico ainda mais exuberante no período subseqüente.

As sete artes liberais, 'Hortus deliciarum'
de Herrad von Landsberg (1180)
Os avanços na óptica, obtidos durante a Idade Média, logo iriam gerar aparelhos como o microscópio e o telescópio. Esses dois instrumentos juntamente com a prensa móvel, (fruto medieval), são vistos por muitos como os equipamentos mais importantes já criados para o avanço do conhecimento humano. É preciso também ressaltar os avanços na física:

O movimento científico medieval concentrou-se na ciência física. Foi um trabalho que deveria ter continuidade nos séculos seguintes, na época que veio a se chamar de Renascença e no período que é muitas vezes denominado de Revolução científica.

E é nas ciências físicas que vemos mais claramente a emergência da ciência moderna, baseada, em grande parte, nas atitudes inquiridoras dos sábios do fim da Idade Média.

Mas, foram provavelmente o nascimento e desenvolvimento das universidades, juntamente com as primeiras sementes do que se tornaria a metodologia científica contemporânea, as heranças mais importantes do período.

Muito em breve aquela civilização que herdara um império em frangalhos iria revolucionar o entendimento do homem acerca de seu lugar no mundo e no universo.

Por mais que os homens do renascimento e de momentos históricos subsequentes às vezes fizessem questão de esquecer, muito disso foi possibilitado pelas conquistas medievais.


Vejamos Alguns dos maiores mitos criados pela modernidade sobre a Idade medieval:


1) Na Idade Média pessoas eram decapitadas todos os dias nas forcas públicas.

 Embora grande parte das pessoas acredite no contrário, a pena de morte era uma punição utilizada apenas em casos considerados extremamente graves para a época. Para que alguém recebesse a sentença, era preciso que ela fosse responsável por assassinatos, incêndios criminosos ou, acredite, a traição.

As decapitações não eram exatamente como vemos nos filmes: elas não aconteciam o tempo todo e poucas punições com a decapitação foram feitas em público. Na verdade, o caso mais comum de execução era a forca, e as fogueiras foram usadas poucas vezes, geralmente depois que o indivíduo já havia sido morto por enforcamento. 

2) Na Idade Média havia injustiça social e fome.

 É claro que na Idade Média também havia diferenças sociais. No entanto, os mais pobres não ficavam sem alimentos. Os camponeses recebiam diariamente pães e uma porção de mingau, tudo acompanhado de cerveja. Além disso, eles também recebiam alguns pratos mais substanciais, dependendo da disponibilidade na época.

Entre eles, estavam carnes secas ou curadas, queijos, frutas e legumes. Além disso, patos, gansos e até mesmo pombos não eram incomuns na mesa dos camponeses. Alguns deles tinham até mesmo mel para acompanhar as refeições. Enquanto isso, os ricos contavam com uma enorme variedade de cortes de gado e ovelhas, além de uma série de pratos condimentados. De qualquer forma, mesmo que os pobres não pudessem pagar pelo luxo, eles recebiam uma refeição considerada mais adequada do que muitos lanches de fast food atuais.

3) Foi uma época de violência e barbárie.

Uma das ideias erradas que se tem é que, ao longo da Idade Média, era bastante comum ver casos de violência e mortes. A verdade é que, como em qualquer época, aqueles tempos também tinham violência, no entanto, pesquisadores afirmam que nada ainda supera os feitos de Stalin e Hitler.
Historiadores modernos já assumiram que a Inquisição não foi tão sanguinolenta quanto aquilo que é mostrado em livros e filmes. Casos que vemos atualmente, como genocídio, assassinatos em série e assassinatos em massa, era algo praticamente inexistente na Idade das Trevas – tanto é que existem apenas dois casos conhecidos sobre assassinos em série durante toda a Idade Média.



4) Os medievalistas acreditavam que a Terra fosse plana. 

 Uma das maiores surpresas ao pesquisar mais a fundo a história é descobrir que, ao contrário do que crescemos acreditando, naquela época as pessoas não acreditavam que a Terra era plana, muito menos que ela seria o centro do universo.

Muito antes de Galileu, Copérnico já havia quebrado essas teorias, sem ser punido por isso. Pesquisas mais recentes apontam que “não havia praticamente um estudioso cristão da Idade Média que não reconhecia a esfericidade do planeta. E alguns até mesmo conheciam o seu perímetro aproximado”.



5) Na Idade Média o povo era tratado como escravo pelos senhores feudais.

á aludimos à origem desta instituição: pequenos camponeses, desejosos de ser amparados no clima caótico decorrente da queda de Roma, punham-se sob a tutela de senhores; em troca da proteção. davam-lhes uma parte de suas colheitas e comprometiam-se a permanecer no seu pedaço de solo – o que era vantajoso para o senhor como para o campônio.
Tal regime foi taxado de escravidão – o que supõe enorme equívoco, como passamos a ver.

O servo da gleba era tratado como pessoa, à diferença do escravo romano, que era considerado rés, coisa. O senhor feudal não tinha direito sobre a vida deles, como tinha o senhor do escravo romano. O servo da gleba pactuava com o seu senhor espontaneamente, isto é, isento de coação por parte de algum chefe: o senhor não o poderia expulsar do seu território, nem ele poderia fugir; o servo devia cultivar a terra, cavando-a, semeando-a e colhendo os frutos, tanto em seu proveito como em proveito daquele que lhe dava tutela. Fora disto, o servo gozava de todos os direitos do homem livre: podia casar-se e fundar uma família; a sua terra passaria para os filhos após a sua morte, assim como os bens que ele pudesse adquirir. O senhor feudal tinha obrigações correspondentes: não lhe era lícito vender, alienar ou abandonar a terra do servo.

Pode-se mencionar também a história das duas servas Auberede e Romelde, que entre 1089 e 1095 compraram a sua liberdade em troca de uma casa que possuíam em Beauvais na praça do mercado. Isto bem mostra que os servos (no caso, as servas) tinham a possibilidade de possuir bens próprios.

No século XIV, quando se ia enfraquecendo a nobreza ou a casta dos senhores feudais, pode-se dizer que praticamente os camponeses se tornaram não apenas usuários, mas propriamente donos da terra que cultivavam.

A Igreja medieval estimulou grandemente a libertação dos servos. É de notar, por exemplo, o caso de Sugere: filho do servo da gleba, foi condiscípulo do futuro rei Luís VI na abadia de Saint-Denis; entre eles originou-se nos bancos da escola uma amizade que só cessaria com a morte; Sugere, mais tarde, tornou-se abade de Saint-Denis e, como tal, governou o reino da França durante a cruzada de Luís VII, que, ao regressar, o proclamou “Pai da Pátria”.

Estes dados, aos quais outros se poderiam acrescentar, bem evidenciam a grande diferença existente entre os escravos da antiga Roma e a escravidão negreira moderna, de um lado, e os servos medievalistas, do outro lado.


6) Na Idade Média a mulher era totalmente subjugada pelo patriarcado machista.

obs: essa vai para as feministas militantes que em absoluta ignorância são manipuladas a agredir a igreja católica. O feminismo é uma arma instrumentalizada nos dias atuais para engenharia social e não para defender os direitos da mulher.

A figura da mulher, na Idade Média, tem sido mal entendida ou cercada de preconceitos, como se tivesse sido relegada para uma posição de desprezo. Eis alguns que desmentem tal concepção:

Nos tempos feudais a rainha coroada como o rei, geralmente em Reims ou, por vezes, em outras catedrais. A coroação da rainha era tão prestigiada quanto a do Rei. A última rainha a ser coroada foi Maria de Medicis em 1610. na cidade de Paris. Algumas rainhas medievais desempenharam amplas funções, dominando a sua época; tais foram Leonor de Aquitânia (+ 1204) e Branca de Castela (+1252); no caso da ausência, da doença ou da morte do rei, exerciam poder incontestado, tendo a sua chancelaria, as suas armas e o seu campo de atividade pessoal.

Verdade é que a jovem era dada em casamento pelos pais sem que tivesse livre escolha do seu futuro consorte. Todavia observe-se que também o rapaz era assim tratado; por conseguinte, homens e mulheres eram sujeitos ao mesmo regime.

A Igreja lutou contra essa imposição de casamentos; exigiu e exige que os nubentes dêem livre consentimento à sua união matrimonial e formulou impedimentos diversos que, opondo-se à grandeza e à santidade do casamento, o tornam nulo. De passagem observe-se que nem mesmo em nossos dias a legislação muçulmana garante à mulher a liberdade de escolha do seu marido.

Precisamente por causa da valorização prestada pela Igreja à mulher, várias figuras femininas desempenharam notável papel na Igreja medieval. Certas abadessas, por exemplo, eram autênticos senhores feudais, cujas funções eram respeitadas como as dos outros senhores; administravam vastos territórios com aldeias, paróquias; algumas usavam báculo, como o bispo. . . Seja mencionada, entre outras, a abadessa Heloísa, do mosteiro do Paráclito, em meados do século XII: recebia o dízimo de uma vinha, tinha direito a foros sobre feno ou trigo, explorava uma granja.

As monjas da época eram pessoas instruídas e cultas dentro dos padrões do seu tempo (século XII). A própria abadessa Heloísa ensinava às suas monjas o grego e o hebraico. A abadessa Hrotsvitha de Gandersheim exerceu grande influência literária sobre os países germânicos; atribuem-se-lhe seis comédias em prosa e rima, que imitam o estilo de Terêncio (+159 a.C.), comediógrafo latino. Aliás, muitos mosteiros de monges e monjas ministravam a instrução às crianças da sua região, formando o que se chamava “escolas monasteriais”.

É surpreendente ainda notar que a enciclopédia mais conhecida do século XII se deve a uma mulher, ou seja, à abadessa Herrade de Landsberg. Tem o título “Hortus Deliciarum” (Jardim de Delícias) e fornece as informações mais seguras sobre as técnicas do seu tempo. Algo de semelhante se encontra nas obras de S. Hildegardis de Bingen.

Todavia o espécimen mais típico do seu papel que uma mulher podia desempenhar na Idade Média pode ser encontrado em Fontevrault (França), no início do século XII. O pregador Roberto d’Arbrissel, tendo conseguido a conversão de numerosos homens e mulheres, resolveu fundar dois mosteiros: um para os homens, e outro para as mulheres. Entre eles erguia-se a igreja, que era o único lugar onde monges e monjas se podiam encontrar. Ora esse mosteiro foi colocado sob a autoridade não de um abade, mas de uma abadessa; esta, por vontade do fundador, devia ser viúva, tendo, pois. a experiência do casamento.

Joana D'Arc
Notemos ainda a figura de Joana d’Arc (1412-1431); a audiência que conseguiu da parte do rei da França e dos seus cortesãos para desempenhar as suas façanhas heróicas, é realmente algo de extraordinário.

Mesmo as mulheres que não eram altas damas, nem abadessas nem monjas, mas camponesas ou profissionais de alguma arte da época, exerciam sua influência na vida pública. Com efeito; nos arquivos medievais lê-se mais de uma vez o caso de uma mulher casada que agia por conta própria, abrindo, por exemplo, uma loja comercial, sem precisar, para isto, da autorização do marido

Os registros de Paris datados do século XIII apresentam mulheres médicas, professoras, boticárias, tintureiras, copistas, miniaturistas, encadernadoras. Tem-se notícia, cá ou lá das queixas de uma cabeleireira, de uma vendedora de sal, da viúva de um lavrador, de uma cortesã.

É conhecido também o caso da camponesa Galhardina de Frechou que diante de uma proposta de arrendamento feita pelo abade de São Salvino aos habitantes de Cauterets (Pirineus), foi a única a votar não, enquanto toda a população votou sim. Aliás, as mulheres votavam como os homens nas assembléias rurais e nas urbanas.

Foi somente no fim do século XVI, por um decreto do Parlamento Francês de 1593, que a mulher foi explicitamente afastada das funções públicas naquele país. E isto, por influência do direito Romano, que mais e mais ia sendo adotado pelas legislações pós-medievais; foi então confinada àquilo que outrora e sempre foi o seu domínio privilegiado: o lar e a educação dos filhos.

Estes fatos têm significado em nossos dias, quando movimentos feministas reivindicam os direitos da mulher na sociedade atual. Vemos que tencionam precisamente superar um obscurecimento da figura feminina que é pós-medieval. A Idade Média, no caso, bem poderia servir de modelo à mulher contemporânea. Esta, porém, no afã de assumir seu lugar junto ao homem, parece às vezes esquecer-se da sua própria identidade e originalidade; é o que observa muito a propósito Régine Pernoud:

“Tudo acontece como se a mulher, deslumbrada de satisfação à idéia de ter penetrado no mundo masculino, ficasse incapaz do esforço de imaginação suplementar que lhe seria preciso, para trazer a esse mundo a sua própria marca, aquela precisamente que falta à nossa sociedade. Basta-lhe imitar o homem, ser considerada capaz de exercer as mesmas profissões, de adotar os comportamentos, e até os hábitos, em relação ao vestuário do seu parceiro, sem mesmo pôr a si mesma a questão do que é em si contestável e do que deveria ser contestado. É de perguntar se ela não será movida por uma admiração inconsciente, que se pode considerar excessiva, dum mundo masculino que ela acredita necessário e que basta copiar com tanta exatidão quanto for possível, mesmo que seja à custa da perda da sua própria identidade e negando antecipadamente a sua originalidade” (p. 103).



7. A Inquisição foi uma das maiores atrocidades já cometidas na história

A Inquisição medieval era um tribunal eclesiástico e civil que julgava os hereges e os condenava, de acordo com os procedimentos da época. Também a respeito disto muito se tem escrito sem exato conhecimento, de causa e de maneira preconceituosa. Para entender os fatos, é preciso lembrar os seguintes pontos que R. Pernoud põe em relevo no seu livro (pp. 104-126):

1) Para os medievais, a fé e os bens espirituais eram ainda mais importantes do que a saúde física e os bens materiais. A fim de ilustrar esta afirmação, R. Pernoud refere o seguinte episódio ocorrido sob São Luís, rei da França (1226/70):

“Joinville conta como, no momento em que o exército da França, de que ele fazia parte, foi varrido por uma epidemia às margens do Nilo, ele próprio, atacado pela doença, assiste um dia à Missa na sua cama, sob a tenda. Ora eis que o padre celebrante é de repente atingido também pelo flagelo; cambaleia. Joinville salta da cama e corre a ampará-lo: ‘Acabe o seu sacramento’, disse ele; depois continua a sua narrativa: ‘E ele acabou de dizer a Missa, e nunca mais a cantou’. Ora, para a gente toda hoje o gesto de Joinville pareceria pouco sensato: diante de um padre atacado de doença, qualquer pessoa se apressaria a procurar um médico, mas a preocupação maior de Joinville e do próprio padre, tanto quanto se pode deduzir da narrativa, foi que ele ‘acabasse o sacramento’” (p. 108).

2) No contexto da civilização medieval apareceram no século XI hordes de cátaros, ou seja, de pessoas que julgavam ser a matéria má por si mesma; por isto combatiam as instituições vigentes na sociedade; negavam, por exemplo, a validade do juramento — o que atacava o âmago da vida feudal baseada em contratos e juramentos; condenavam o casamento como se fosse participação na obra do Princípio do Mal, criador da matéria; admitiam o suicídio. . . Propagando tais concepções, os cátaros saqueavam cidades e campos, provocando tumultos e suscitando a reação do povo assim agredido.

3) Enquanto as populações atingidas pelos cátaros faziam justiça pelas próprias mãos, linchando e punindo os cátaros, as autoridades da Igreja apregoavam o recurso aos meios intelectuais e espirituais; seria preciso vencer os hereges pela pregação e a persuasão e não pela violência.

4) Todavia as autoridades civis pressionaram os bispos para que interviessem na repressão aos cátaros, já que prejudicavam não somente a ordem pública, mas também os valores da fé. Em conseqüência, no ano de 1184 o Papa Lúcio III em Verona exortou os bispos a procurar ativamente (inquirir) os hereges em suas dioceses a fim de impedir a propagação do mal. Assim teve origem a Inquisição Episcopal.

5) Visto que esta não era suficiente, em 1233 o Papa Gregório IX instituiu a Inquisição papal, confiando aos Dominicanos, recém-fundados por S. Domingos, o encargo de Inquisidores. O Imperador Frederico II teve grande influência na estruturação e no modo de proceder destes novos tribunais (que eram sempre mistos ou constituídos de eclesiásticos e de delegados do Imperador): incentivou a admissão de normas do Direito Romano, entre as quais a pena de morte. O próprio Frederico II, embora ostentasse zelo pela causa da fé, revelou-se um homem cético e um dos mais perigosos adversários do Papado no século XIII. Aqui tocamos mais um ponto importante para se compreender a realidade da Inquisição medieval: se bem que aparentasse ser um órgão da Igreja destinado a tratar de assuntos eclesiásticos, ela sempre foi um tribunal misto, que os imperadores e reis foram utilizando cada vez mais para fins políticos ou para servir a interesses pessoais (tenham-se em vista, entre outros, os processos contra os templários e contra S. Joana d’Arc, que se explicam por ingerência indevida do braço civil em assuntos religiosos).

6) No tocante à aplicação da pena de morte aos hereges, as estatísticas medievais são muito lacunosas; não permitem reconstituir imagens exatas dos fatos. Os historiadores modernos têm exagerado os números de condenações. Eis as observações de R. Pernoud:

“Os castigos geralmente aplicados são emparcelamento, isto é, a prisão (distingue-se a ‘parede estreita’, que é a prisão propriamente dita, e a ‘parede larga’, que é a residência vigiada) ou, mais freqüentemente ainda, a condenação a peregrinação ou a trazer uma cruz de pano cosida sobre a roupa. Onde os registros subsistiram, como em Tofosa em 1245-46, constata-se que os inquisidores pronunciaram, em média, uma condenação à prisão dentre nove casos; uma condenação à pena de morte em quinze casos; os outros acusados foram ou libertos ou condenados a penas leves” (p. 114).

7) É importante ainda notar que, antes que os tribunais de Inquisição procedessem oficialmente, os nobres, os reis e o povo simples, “fazendo justiça por suas próprias mãos”, aplicavam violentamente a pena de morte.

São estas algumas observações de peso referentes à Inquisição medieval. Salientemos, mais uma vez, que ela tem sido objeto de preconceitos e exageros por parte de historiadores modernos. As falhas dos inquisidores hão de ser reconhecidas na medida em que realmente existiram; o amor à Igreja não exclui que se diga a verdade quando os filhos da Igreja, à revelia desta Mãe e Mestra- pecaram. A censura aos medievais, porém, leva-nos a um sério exame de consciência da sociedade contemporânea: existe hoje também a Inquisição — e muito dura — não por causa de heresias religiosas, mas por causa de “heresias políticas”. “Todos os castigos, todas as hecatombes, parecem, no nosso tempo, justificados para punir ou prevenir os desvios ou erros quanto a linha política adotada pelos poderes em exercício. E, na maior parte dos casos, não basta banir aquele que sucumbe a heresias políticas, importa convencer; daí as lavagens de cérebro e os internamentos intermináveis que destroem no homem a capacidade de resistência interior” (p. 126).

Quando se pensa no pavoroso balanço, na perda louca de vidas humanas. . . com que se têm punido os delitos de opinião no nosso século XX, pode-se perguntar “se nesse setor do delito de opinião a noção de progresso não se encontra atraiçoada. Para o historiador do ano 3000., onde estará o fanatismo? Ou a exploração do homem pelo homem? No século XIII ou no século XX?” (p. 126).


Conclusão

Necessitamos formar um juízo mais objetivo sobre esta fase da história. Longe de ter sido obscurantista, foi uma época em que o gênio humano se exprimiu de maneira inesquecível nas artes (letras, música, arquitetura, pintura), na filosofia, na ciência, no direito, dando às suas produções um toque de transcendental inspirado por fé profunda. É claro que houve em tal época falhas humanas — não poucas nem pequenas — como as há em nossos dias… apenas com a diferença de que a maldade humana hoje é mais requintada e “científica” e, por isto, talvez mais carregada de responsabilidade.

Seria para desejar que o estudo objetivo do passado levasse os contemporâneos a não incidirem em faltas mais graves!

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