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sábado, 11 de março de 2017

Documentário "A Idade Média Compreendida".

A grande dificuldade para se pensar a Idade Média é olhá-la com a visão de mundo que temos hoje. Segundo duas especialistas do período, o melhor não é buscar similaridades com o presente, mas pensar que aquele mundo era diferente. Não havia um conceito de democracia e a população não se identificava como nação, termo que, na época, era usado para denominar grupos que frequentavam universidades. Também não existia patriotismo ou vínculo com a terra: o povo e os cavaleiros lutavam pelo seu senhor. E a palavra cultura tinha um sentido meramente agrícola, de cultivar a terra.

Documentário "A Idade Média Compreendida".parte 1


                                       Documentário "A Idade Média Compreendida".parte 2
                                                                    A Mulher Medieval


Documentário "A Idade Média Compreendida".parte 3
Inquisição


“A cultura medieval não pode ser avaliada pelos critérios que aplicamos à nossa”, resume a historiadora Néri de Barros Almeida, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ela destaca que, na Idade Média, o poder es­­tava atrelado à ideia de evolução espiritual. “O poder na Idade Mé­­dia se declara responsável pelo progresso espiritual daqueles que lhe estão submetidos. Na ideologia política dominante de en­­tão, não faz parte das atribuições de governança a orientação do progresso cultural da sociedade como o entendemos, ligado, por exemplo, a um sistema universal de ensino”, diz. A educação cabia à Igreja, que também se ocupava do cuidado das almas.
Na maioria das vezes, razão e fé estavam entrelaçadas. “Pode até haver uma distinção entre as duas no sentido de considerar a razão teológica e a razão empírica, ou seja, um conhecimento empírico de mundo distinto do conhecimento teológico de mundo”, afirma Néri.
Peste e guerra
Esse período de mil anos (476-1453), que vai da queda do Império Romano à conquista de Constantinopla pelo Império Otomano, é marcado pelo domínio da Igreja e tido por muitos como uma “Idade das Trevas”. Uma visão simplista: como existem mais documentos que retratam o fim do medievo, por volta dos séculos 14 e 15, o que mais se perpetuou foram as lembranças da peste negra, da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), da queda de Constan­tinopla e do Cisma do Ocidente (entre os século 14 e 15, quando o mundo cristão chegou a ter três papas).
“O que aconteceu no final [da Idade Média] foi realmente horrível. Dizem que a peste negra ceifou dois terços da população de Paris. Parece um exagero, mas vemos que foi avassaladora. O que não dá é reduzir o período a isso”, afirma a historiadora Marcella Lopes Guimarães, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Esquece-se, por exemplo, que na Idade Média surgiram as universidades e a imprensa. Além disso, foi um período de produção cultural bastante diversificada: a arquitetura gótica, que levava as catedrais às alturas; poemas de amor que animavam romarias e namoros; e peças de teatro apresentadas em vilas e castelos.
A novela anônima Sir Gawain e o Cavaleiro Verde é do medievo, assim como várias outras chamadas de cavalaria, como as escritas sobre a Távola Redonda, o Ciclo Arturiano e o Santo Graal. “Todos conheciam poesia. Mas a sua leitura era pública e não privada, com um livro na mão no próprio quarto”, explica Marcella. “A Idade Média é muito mais oral e gestual, até porque a maioria das pessoas, nobres ou não, não sabia ler.”
Leigos
E não eram apenas as pessoas da Igreja que produziam cultura: as monarquias que se formavam precisavam de médicos, advogados e notários e tiveram indivíduos que trabalharam na corte e escreveram peças, romances e poemas, sem pertencerem necessariamente ao clero. “Havia também clérigos que viviam nas cortes [alguns gostavam mais de estar ali do que nas igrejas] e produziam crônicas e novelas de cavalaria, e que tinham o amor no centro das preocupações”, diz Marcella. “E olha que não era o amor religioso, era amor homem e mulher, o ‘amor profano’.”
Há também a produção da Falsafa, da filosofia árabe, que está ligada ao Islamismo e não ao Cristianismo. Eles traduziram a filosofia de Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C) muito antes do Renascimento. “Avicena foi um filósofo muçulmano cujas obras foram estudadas durante a época moderna nas universidades de Medicina”, lembra Marcella.
“A produção não é voltada para a Igreja, mas produzida por ela”, recorda Néri Barros de Almeida. A Igreja toma as rédeas dessa cultura por ter mais condições materiais. Hoje, boa parte da produção cultural tem a ajuda dos poderes públicos para sua preservação. “Na Idade Média esse papel é desempenhado pela Igreja que, evidentemente, como instituição religiosa, tem interesses bem diferentes da política cultural do estado laico moderno”, diz a historiadora da Unicamp.
Isso não quer dizer, segundo a historiadora, que a Igreja tenha monopolizado a cultura ou sufocado as formas de expressão. “Significa dizer que a parte da cultura global que é alvo de ações que visam sua preservação é justamente aquela relacionada às elites letradas, em especial à Igreja. Hoje a preservação cultural também passa pela deliberação das elites, mais próximas ao poder.”


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